terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Um mundo de “colunas falsas“


Nos acostumamos a viver em um mundo dotado de infinitos padrões, esteriótipos, normas, leis e tudo mais que leve o indivíduo à submissão e a “mortificação de si mesmo”. Mas sabemos que somos assim porque desde o princípio dos tempos fomos condicionados a tudo isso. Em um passado não tão distante, as mulheres abdicavam de suas fantasias, de seus próprios desejos em função da mentalidade machista e intolerante da sociedade da época, na qual sua única função era procriar, cuidar da casa e da família. Seus maridos exigiam delas honra, fidelidade e retidão, enquanto eles ocupavam seu tempo nos becos e nas tavernas.

Alguns homens com tendências homossexuais se viam obrigados a casar para fugir da forca ou da fogueira, pois “tamanho desatino” ia contra a vontade de Deus e os princípios da igreja . Princípios estes que os próprios padres davam o exemplo, (de forma velada , é claro), deitando-se com as freiras por trás dos confessionários ou até mesmo em cima do altar.

Pois é, não conheço ninguém - ninguém que deixe de seguir sua ideologia à risca, mas conheço um bando de hipócritas, falsos e covardes. Sim covardes! Covardes o suficiente para não aceitar que todos têm fraquezas, inclusive eles mesmos.

É por essas e outras que esta narradora acredita que continuamos vivendo em um mundo de colunas falsas.Um mundo onde todos se julgam perfeitos, puros, intocáveis, mas que por trás das cortinas, dos muros ou da própria consciência a hipocrisia reina e que por isso, não devemos aceitar slogans, bandeiras, moldes, assim como devemos desconfiar de todo o idealista que lucra ou tenta lucrar com seu ideal.

Um comentário:

  1. Num mundo tão vasto em possibilidades, por que as pessoas tendem a seguir padrões homogenizantes? Eis aí uma grande celeuma filosófica! Vivemos, contemporaneamente, num mundo paradoxal (o qual um amigo meu chamaria de "mundo heiggeriano") onde somos,concomitantemente, controlados e controladores. Neste neomundo de hoje, as informações e o conhecimento estão muito mais ao alcance de todos do que em qualquer outro período da História.
    Vivemos hoje um info-iluminismo partejado por esta ampla teia mundial cuja abrangência e simultaneidade nos disponibiliza uma quantidade estentória de informações. Contudo, tais informações – que deveriam libertar-nos, destarte, dos grilhões da ignorância aprisionante – atuam colateralmente posto que vivemos numa cultura midiática que padroniza nosso ideário. Estamos sempre numa busca sôfrega por um padrão que viabilize nossa adequação social haja vista nossa necessidade ideodarwiniana de adaptação ao meio, necessidade esta tão preconizada pela mídia. Contudo, esta mesma mídia não é uma entidade autônoma, muita menos uma lei da natureza. Ela, em verdade, é apenas um mecanismo verbalizante de nossa essência ideológica,ainda que tal essência seja subliminarmente forjada por esta mesma mídia, daí porque somos controlados e controladores ao mesmo tempo;está dentro de nossas capacidades dissolvê-la através do desenvolvimento de alternativas descentralizadas com controle comunitário, usando redes a cabo e outras tecnologias ou alternativas mais substantivadas advindas de movimentos populares mais amplos e portanto com maiores recursos. A escolha não está limitada apenas à subordinação e à recusa.
    Tal processo de padronização de nosso ideário aflora em nós o nosso instinto ancestral de horda, de agrupamento, no qual juntos nos sentimos "fortes" para hostilizar o diferente. De modo análogo, somos torcidas organizadas usando uniformes de nosso time, xingando os adversários de outra torcida. Enquadrar-se é uma necessidade humana, embora mais para uns que para outros.
    Precisamos, ideologicamente, dos conceitos de certo e errado que são mentiras consensuais nas quais resolvemos acreditar por serem impreteríveis para o equilíbrio individual e social, e homogenizar-se ao grupo, viabiliza esta estabilidade. O surgimento de alguém que não esteja sinergizado com o grupo e atua de maneira diversa desestabiliza esses conceitos, portando este elemento dissonante deve ser rechaçado do conjunto. Não obstante a tudo isto, consideramos-nos libérrimos, embora nossa liberdade esteja condicionada às opções que a sociedade nos oferece: "O café é com açúcar ou adoçante, senhor?". Há outros conceitos/padrões geradores de angústia/estabilidade: o mito da maternidade, a necessidade de um Deus, a juventude eterna, a preconização de uma sexualidade unilateralmente heterosexual e ect. Imaginemos-nos em pleno carnaval no meio de uma turba grandiosa. Embora pareçam iguais, há entre eles aqueles que não gostam de criança, os que nunca rezam, os que estão satisfeitos com suas rugas e gorduras, os que não gostam de praia, os que odeiam futebol, os que viverão até os 100 anos fumando, os que conversam telepaticamnete com ET's... Enfim, os desajustados de uma sociedade que só oferece um molde.
    Todos nós, que estamos quites com tais paradigmas consensuais, guardamos, lá no âmago, algo que nos perturba, que nos convida ao exílio, que revela nossa porção despatriada. É nossa parte anarco-comformista que aceita a existência de tais paradigmas, entende que é melhor viver de acordo com o estabelecido, porém, no íntimo, não consegue dizer amém.
    "S ão todos iguais e tão desiguais
    uns mais iguais que os outros"...

    ResponderExcluir